quarta-feira, 25 de junho de 2008

Pôr-do-sol

Quem me nega que os mortos,
Que na eternidade de sua ausência,
Não choram por lhe faltarem,
O romântico pôr-do-sol.

Quem me nega que os sozinhos,
Que na falta do seus amantes,
Não se consolam com a visão,
Do pôr-do-sol amigo.

Quem me nega que os trabalhadores,
Que no cansaço do trabalho,
Quando na hora de ir para casa,
Se descansam no pôr-do-sol.

Quem me nega que os amantes,
Que se acham no carinho,
Perdem toda a noção da hora,
Quando estão ao pôr-do-sol.

Quem me nega que os frígidos,
Buscam todo o sentimentalismo,
Na ternura do pôr-do-sol.

Quem me nega que os fortes,
Que no topo de seus pedestais,
Ficam pequenos diante do pôr-do-sol.

Quem me nega que os fracos,
Que na tristeza dos acontecimentos,
Se acontecem no pôr-do-sol.

Quem me nega que os carentes,
Que na incerteza de um abraço,
Abraçam o pôr-do-sol.



segunda-feira, 16 de junho de 2008

Como Uma Leve Brisa

Se me perco nos caminhos da vida.
Me acho no nascer do sol.
Se me perco nas ondas do mar.
Me acho em qualquer anzol.


Se me encontro nesta poesia.
Me perco dentre as entrelinhas.
Se me encontro num sorriso sincero.
Me perco no frio do inverno.


Se me encontro nas nuvens do céu.
Me levo a lugares mil.
Se me acho numa folha de papel.
Me desenho um rabisco infantil.


Se me vejo a amar por aí.
Me direi que não há solidão.
Se me vejo a rolar pelo chão.
Me direi que há vida aqui:


Dentro do meu coração.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Soneto da Consolação

Meu amigo, diga,
Porque tanto se esvaíra,
Nesta valsa de amar.


Pois é tão belo o canto,
E tão triste o teu pranto,
Que também me faz chorar.


Se por debaixo destas lágrimas,
Se por detrás de tuas mágoas,
Houver uma gota de ternura,
Que tu venhas a me alegrar.


Não te faças solidão,
Pois o sol há de nascer, onde triste estarás,
Se o fim não nos poupará,
Meu amigo, venha cá, pr’eu num beijo te abraçar.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Entendimento

A passagem. Vultos intermitentes. Sons furiosos. Ritmo valente. Tempo compassado. Métrica veloz. Tudo, hoje em dia, tem seu conceito, sua definição. Mas cada vez que o relógio marca meia-noite, entender o mundo torna-se tarefa cada vez mais intuitiva, sensorial. O entendimento da alma, do espírito. A grave observação, a apuração dos sentidos. Conhecer-se a si, e perceber os mecanismos. O mundo hoje é complexo como nunca fora. São pessoas sobre pessoas. Ler os códigos, hoje, é dar forma à intuição. Ou àquela sensação pendurada na mente, quase caindo em esquecimento.
Há tantos livros explicando a vida, mas na hora que se vive. Vês que a vida não é um livro e nem dois. Quando se faz política, os interesses pessoais e narcisistas de cada político é chave essencial. Até na hora de fazer justiça, a condição financeira é pertinente. Um ornamento ganha brilho especial. Atenção em cada aspecto. A vida se revela tanto no mendigo que morre em vão quanto na modelo da passarela.
Insensibilidade. Máscara da aparência. Acentuaram-se as diferenças. Erga sua bandeira. Cante seu próprio hino. Individualismo. Faz parte das pessoas de hoje definir tudo. TUDO. O que é certo, o que é errado. Quem ajuda os outros... espera aí. Filantropia para ter a aparência de bonzinho. Ser o amigo dos oprimidos. Conceitua-se até os afetos. Ter a família tradicional. Família tradicional? Risos. Nada parece escapar da voraz ganância. Como dizia Françoise Sagan: “O que falta à nossa época é a gratuidade, fazer algo por nada’’.
Sem talvez nada, sair por aí. Largar a fome do julgamento e da definição. Largar os paradigmas. Ver a folha cair no chão e não pensar no outono. Ver a flor brotando no chão, e ver que ela não é diferente de você. Ver outra flor morta no chão, e porventura ver que o ciclo é o mesmo. Ver o homem pisando na grama, e ver a realidade. Os que pisam e os que são pisados. A vida se revela até no assobio do vento. Ouvir a sua intuição. Entrar em contato. Tudo isso faz parte de um entendimento. De uma sabedoria. De uma consciência.