quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Perdão.

Permita-me, Deus.
Que eu lhe peça perdão.
Por uns pecados que cometi:
Deixei de amar,
Deixei de sorrir,
Deixei de errar.
Eu permito-lhe então, Deus.
Que me peças perdão.
Pois não sabes da dor que me fizeste.
Quando criou a desilusão.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A Última Melodia

A janela está aberta porque eu não sei fechá-la. É nesta mesma cama onde a noite me banha de solidão e desconsolo. Quero desconsolar-me desta vez. Deixa-me cantar as melodias vãs dos marinheiros que se perdiam no vasto eco do ar para enfim cair no mar e afogar de vez. Deixe que eu afogue minhas melodias, meus cânticos de sereia já morta. A solidão me consola hoje e eu não a trocaria por um sussurrado eu te amo. Não trocaria esta noite dissonante e atonal pelo compassado som de um amor qualquer. Esta noite é como pérola negra. Ouça-me pela última vez a canção que te faço agora. Ouça este som que vai morrendo aos poucos e sem um pranto. Esta nobre melodia de quem já partiu. Ouça-me, pois esta será a última vez. E na cama olho apenas o teto – que nada me diz. A lua não está cheia, livrei-me de todo o romantismo. Ela está minguante e me deixa às escuras como eu quero para esta noite. Estão jogados ao chão uns poucos versos em vagas estrofes: ouça a melodia que te fiz. Um soneto precário, errôneo, e de métrica qualquer: exatamente como você. Errando nos versos canto-me a mim para então cantar-te a ti. Mais do que qualquer canto, dou-lhe os versos jogados pelo chão:

Será que no tempo tem tempo bastante,
Para caber a eternidade?
Será que na vida inteira,
Há tempos de felicidade?

Será que no nosso longo canto de saudade,
Haverá canção que caiba um sorriso.
Será que no nosso eterno sonho de liberdade,
Haverá espaço para um amor contido.

Será que em meio a sonhos desiludidos.
Esquecemos de nos realizar?
Esquecemos o simples viver?
Mas que eu me perca dentre os lençóis.
Pois no silêncio vou me emudecer.
Deixe-me morrer serenamente, para serenamente renascer.