quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Monólogo Monogâmico, Surrealista.

Pensa, retrai, contrai. Lá vem dor de cabeça.

- Acho que o litoral não me faz bem.

Ora, irei para a Rússia, morrerei niilista, tomando vodka. Eis o fiz de um poeta.

- Esconder-me-ei num porão de Paris, talvez.

Qual o problema do sol, poeta?

- Muita luz.

Qual problema da praia?

- Muito bela.

Acho que vou para Inglaterra, virar Virginia Woolf. Princesa Diana que é sonhar demais. É tão triste ser poeta, acho que me jogarei no rio Tâmisa. Talvez me jogarei no mar Negro.

Só me poupe das paisagens caribenhas, não me despertam filosofia alguma, senão qualquer opinião sobre mulher bela. Não gosto de mulheres.

Poupe-me de qualquer paisagem frutífera, quero descobrir o que há nos becos. Mostrar a todos o monstro que há em cada um.

O que há de belo agora, poeta?

- Tudo aquilo que não temos.

O que há de poema agora, poeta?

- Nossos sonhos.

Julga a realidade cruel?

- Qual realidade que nunca foi?

O amor?

- Não nos permitimos amar.

O ódio?

- “Destruímos aquilo que mais amamos” (Oscar Wilde)

A amizade?

- Somos hipócritas.

Hipocrisia?

- O que nós é verdadeiro.

A verdade?

- Cada um com sua versão.

A vida?

- Linha reta que une dois pontos: Sorrir e chorar.

A morte?

- Morreremos como nascemos: Aconteceu.

O pessimismo?

- Acordar de um sonho.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Commedia dell'Arte.

Há tantos assuntos pertinentes, que já foram pensados. Não me permito, agora, falar-lhes sobre o amor. Nem sobre o ego, nem sobre dor. Darei atenção às células que gritam meu nome, às engrenagens cheias de graxa que pedem atenção. Na verdade, não pedem. Menti. Minha cabeça que lateja por dar atenção, inquietante.

É admirável ver à volta, tão gás carbônico. Um souvenir século XX. Quem aqui vê os pássaros cantados pelos poetas românticos? Ou as catedrais pintadas pelos poetas barrocos? Quem aqui vê a paisagem impressionista de Monet? Ou, simplesmente, a simplicidade dos versos de Drummond? Ou a intensidade poética das estrofes de Pessoa? Quem aqui vê as palmeiras onde canta o sabiá?

Quem vê o cimento, vê além. Quem precisa ver uma pena para tirar a poesia de um pássaro? Quem precisa ver amantes para tirar a poesia do amor? O cimento nos diz tudo. Posso estar fazendo papel de bobo, de direitista. Vocês me entenderão.

A realidade não é mais um poema de Gonçalves Dias. A realidade não é mais tão lírica quanto à métrica de Olavo Bilac. A realidade não é mais tão serena quanto à morte de Ismália. Hoje, a lei é sobrepor-se. Não importe quantos serão os pisoteados, sobreponha-se.
Posso parecer repetitivo, Machado de Assis disse parecido. Vocês me entenderão.

Quem vê uma máquina, que agora diga: Ave Máquina! César já morreu.

É a corrente elétrica, potência, chip, nanotecnologia. Quem diz que a tecnologia não diz o que o homem é; tão mente, que se sentisse a mentira que disse, cuspiria no chão. É isso: A máquina diz como nós somos. A sociedade criou a máquina, ora agora, ela que nos cria.

Faço-lhes uma confissão indecente, meus caros: Virei máquina. É a publicidade que diz o que eu devo comprar; a televisão que opina por mim. O jornal diz a versão dos fatos, na qual devo acreditar. A máquina colhe o trigo, que a máquina o leva para a padaria, que a máquina faz o pão.

A máquina ilumina meu quarto, a máquina que me locomove, a máquina que me faz andar depressa, a máquina mede as horas. As horas medem minha vida. A máquina colhe, produz, carrega, fabrica, processa, fermenta, vende, industrializa, sintetiza, tornamos-nos escravos de nossa própria criação. Santa ironia! Queres viver a luz de velas, tecnológico? Meu ar é gás carbônico, meu sangue é gasolina, fedo a cigarro, minha pele é de aço inoxidável; a maquina me satiriza.

Onde está o espaço para o ser; ser? Cadê minha liberdade, meu senso crítico?!

Virei
Máquina,
Máquina,
Máquina,
Máquina,
Máquina...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Ser, Sentir.

Sinto: E isso, às vezes, parece que mata. Vejo, ouço, falo. Mas, nada rói mais que sentir. Parece que é condição inerente e anterior a qualquer coisa. Antes, sinto. Depois, penso, formulo, falo, ajo. Há quem diga que a felicidade é o mais nobre do sentimento. Mas, sempre que estou feliz. Sinto que a felicidade será passageira. E sentir rói. Não sei se é instinto, mediunidade, amor, se é algo só ou uma mistura de vários nomes. Sentir, às vezes, é algo que não sei o nome. E se não sinto nada, sinto-me vago, vazio. E já é sentir alguma coisa. Estar vazio, estar cheio, estar de saco cheio. Antes de ser, já senti.
E sentir, faz-me sentir vivo. Ao amar alguém, principalmente, ser amado. O ser necessita a cada dia dizer a si mesmo, os motivos de estar vivo. Necessita se afirmar como ser, fincar seus pés de ser no chão, e sentir-se amado, também é dizer a si mesmo: Estou vivo. Nós precisamos ter o que cantar.
Afirmar-se é sentir, ao beijar uma mulher e encaixar-se no padrão, o ser se sente acolhido pelo grupo. Portanto, não se sente só. Uma estúpida forma de achar alguém.
Mas, sempre estamos. Tolo é o que diz que vive sozinho. Encaixar-se, modelar-se, sejam lá mil formas que houver, precisamos achar alguém e sentir-nos vivo.
Precisamos nos publicar, nos vender, mostrar nossa auréola e nosso tridente. Enfim, ninguém se realiza, se edifica sozinho. E o ato de ser está subjugado ao ato de ter alguém.
Você que está lendo, ajude: Ame a mim, ame a alguém. Perder tempo ao lado de uma pessoa, nunca é perder tempo.