quinta-feira, 24 de julho de 2008
Poética
Gosto muito da literatura. Bela senhora que fez os românticos. É que nem mãe. Acolhe os desolados, os decepcionados, os reprimidos, os deprimidos e os desiludidos. Senhora, esta que moveste milhões de Drummond à Camões. Veio no senhor Lirismo, sua enorme poética. Fizeste Shakespeare delirar. Antes de suicidar, Florbela achou refúgio em ti. És amiga de todas as horas, por tua tanta esperança. Não deixarei de confiar em ti. Mas, minha cara. Como dizia, o outrora revolucionário Sr.Manoel Bandeira “Não quero mais saber do lirismo que não seja libertação”. Não que Shakespeare seja tolo, e nem que Camões seja chato. Somos todos amigos. Mas não quero mais idealismos. Não quero vida idealizada. Quero quebra de padrão. Poética libertária! Quero um romance homossexual com final feliz! Uma crônica travesti! Um conto de amor racial! Um pobre sorrindo na capa do jornal! Que suma do dicionário os verbetes: comum e normal! Tire suas vestes de Maria Antonieta e ponha a calça Jeans! Pegue na enxada, bata cartão! Quero ver poesia operária, poesia de ruptura! Quero ver-te nos becos, nas árvores derrubadas, nos animais em cativeiros! Tire suas vestes de Maria Capital e solte o estopim!
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Contra a Corrente.
Muitos dizem que a culpa da homofobia reside nos afeminados. Bem, eu vou contra a corrente. Odiar-me-ia se, porventura, eu tentasse me esconder através de anabolizantes, academia, músculos. Não nasci para viver sob vestes furadas. Nem para tampar o sol com peneira. E muito me incomoda, quando dizem que a culpa da homofobia está nos afeminados. É muito mais vergonhoso, esconder-se nos músculos másculos, na pose de macho, só para entrar na comunidade moral. Ao falar que nem mulher, se por um lado reforço um estereótipo, dou meu grito de liberdade: GAYS EXISTEM! Vestes sujas não me vestem, eu quero ser de verdade! E se for preciso desfilar para lutar contra a invisibilidade: DESFILO LINDA! O que não se pode é viver atrás das sombras, culpando-se por ser homossexual. É essa a minha revolução diária. Nado contra a corrente, com orgulho. Porque ao menos digo para todos que diferenças existem. E que anormal é a homofobia, e não o homossexual.
terça-feira, 1 de julho de 2008
Os Renegados
- O que pensam as pessoas que passam por ali?!
Do outro lado da rua, a visão era pior. Era gente preta que se amontoava nos cantos, era gente que de tão suja, camuflava-se nas sombras. A calçada tão preta quanto à noite, a gente que ali amontoada parecia gente morta, delas escorriam algo que parecia mijo. Mas, não se podia ter certeza. Vivia ali, naquele pedaço mórbido de calçada, os renegados. De vestes sujas, e de posição imóvel. Pareciam estátuas do apocalipse. Tirava o sorriso de quem passava por ali.
O lugar era nojento, ninguém o merecia. As poucas pessoas que se atreviam a desvendar aquele pedaço de calçada, andavam nas pontas dos pés. Faziam caretas diversas, todas demonstrando aquele mesmo nojo inerente. Aquele lugar tornara-se intocável, parecia lugar de lendas como o monstro do lago ness ou o bicho papão. Atravessava-se a rua, os poucos que por ali passavam, andavam infelizes, para dentro.
Do outro lado da rua, a visão era pior. Era gente preta que se amontoava nos cantos, era gente que de tão suja, camuflava-se nas sombras. A calçada tão preta quanto à noite, a gente que ali amontoada parecia gente morta, delas escorriam algo que parecia mijo. Mas, não se podia ter certeza. Vivia ali, naquele pedaço mórbido de calçada, os renegados. De vestes sujas, e de posição imóvel. Pareciam estátuas do apocalipse. Tirava o sorriso de quem passava por ali.
Via-se então, uns olhos claros. Era um clarão em meio à escuridão, nessa hora os transeuntes olhavam espantados. Eram olhos belos, que do outro lado da rua, via-se a luz que dos olhos claros reluzia. Levantava-se então, uma mulher suja, com cabelos longos sujos, andava curvada suja, era um espantalho dali. Dava tristeza de observar, a mulher aos poucos surgia, ia assumindo postura ereta. E quando olhou a mim, não sei se cai. Que olhos eram aqueles que nunca se vira antes! Só me recordo, de vê-la atravessar a rua, e me pedir qualquer centavo.
Dei-lhe a moeda que primeiro vi, sorriu então seus dentes podres. A mulher continuou andando, renegada, a atravessar a calçada mórbida, a ser vítima dos olhares assustados, a roer-se dentro da desesperança. A mulher, quando andava, olhava as árvores, olhava o chão, e quando nos olhava, pedia esmola, que muitas vezes era lhe negada. Talvez, as árvores fossem melhores. Talvez, o chão fosse mais bonito de se olhar.
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