Não se preocupe comigo. Digo, pois é sincero: Não se preocupe comigo. Há aqueles que nascem inteiros de si, só precisam se reencontrar. Como a mãe que procura no retrato o filho que já morreu. Como o homem procura o consolo da vida na lembrança de um bom sorriso. Como a gente procura o nosso amor na imensidão vaga de uma saudade. Não se importe de mim. Minhas armadilhas já estão prontas: um dia hei de pisar nelas. Não se importe com minhas feridas. O sangue que suja o corpo é o mesmo que lava o chão. Afinal, não há dor que não se cure. O tempo ensinou-me a dar tempo para mim mesmo.
Não me escreva mais. Se quiser, esqueça meu endereço. Nunca existi. Não te nego; nego a mim o meu passado. Aquele mesmo fogo que nos consumiu no começo, acaba por transformar-nos em cinzas no final. Estou desgastado. Debilitado, não de você, mas de mim. Eu tenho a cura e a cólera guardadas juntas. Sou o assunto que mais desconheço e que mais sou íntimo. Não lhe culpo por tua ignorância, só lhe peço a partir daqui uma leve distância.
A mesma que separa-nos do abismo. A mesma que separa a flor do chão. Quero de ti a tênue lembrança de certos momentos; de quando o parque era um lugar bom. Quero de ti a serena lembrança do café pronto na madrugada; eu sou alérgico a cafeína e nunca te disse. Bom que já inventaram os remédios. Quero apenas de ti; a imagem inocente que um cego deve ter do mundo. Dê-me apenas a permissão de te transformar em minhas ideologias, permita-me desenhar-te agora como um príncipe e esquecer que coaxava.
Escrevo-lhe esta nostalgia; para ver se te arrependes dos teus sorrisos sem-hora. De tuas carícias sem-amor, de tuas palavras vazias. Gostaria de pôr algo em ti que fizesse sorrir o mundo. Mas parece que você só se preocupa com a sua boca. Não se preocupe comigo. Você não conseguiria.
Atenciosamente apenas.
Não me escreva mais. Se quiser, esqueça meu endereço. Nunca existi. Não te nego; nego a mim o meu passado. Aquele mesmo fogo que nos consumiu no começo, acaba por transformar-nos em cinzas no final. Estou desgastado. Debilitado, não de você, mas de mim. Eu tenho a cura e a cólera guardadas juntas. Sou o assunto que mais desconheço e que mais sou íntimo. Não lhe culpo por tua ignorância, só lhe peço a partir daqui uma leve distância.
A mesma que separa-nos do abismo. A mesma que separa a flor do chão. Quero de ti a tênue lembrança de certos momentos; de quando o parque era um lugar bom. Quero de ti a serena lembrança do café pronto na madrugada; eu sou alérgico a cafeína e nunca te disse. Bom que já inventaram os remédios. Quero apenas de ti; a imagem inocente que um cego deve ter do mundo. Dê-me apenas a permissão de te transformar em minhas ideologias, permita-me desenhar-te agora como um príncipe e esquecer que coaxava.
Escrevo-lhe esta nostalgia; para ver se te arrependes dos teus sorrisos sem-hora. De tuas carícias sem-amor, de tuas palavras vazias. Gostaria de pôr algo em ti que fizesse sorrir o mundo. Mas parece que você só se preocupa com a sua boca. Não se preocupe comigo. Você não conseguiria.
Atenciosamente apenas.