Estou cansado de escrever em blog. Pra quê serve, afinal? Para alguém me ler. Ler-me o quê? O que eu sinto. Ah, o que sinto. Ler, então, os sentimentos que derramaram no chão, e com alguma escrita muito sofrida, tenho que enxugar. Ler que um pombo cagou em mim e que eu, agora, me sinto sujo. Assim sempre me senti em relação ao amor: vários pombos cagaram em mim. Passei debaixo dos fios, e então a revoada com dor de barriga crítica fez o amor brotar em mim. Estou afogado nos silêncios, no silêncio da noite densa, no silêncio que separa um vagão do próximo, no silêncio que distancia dois destinos, e principalmente, no silêncio que aproxima as arestas opostas. Se eu realmente fosse espremer estes silêncios, daria um sumo de pontos, assim “. . . .” é nesse tempo que um passarinho faz seu vôo extraordinário, é nesse tempo que duas bocas se colam, se calam, se fecham para ir embora. É nesse tempo que os pombos cagam. É neste espaço entre dois pontos, neste silêncio, que o macaco se viu homem. Eu, entretanto, falo em códigos não na língua dos silêncios, apesar de eu, ter meus silêncios interiores.
Eu poderia ter começado assim. “Numa tarde tediosa, Camille, se viu diante do indecifrável. Havia fechado completamente a torneira, ela verificara isso, mas por algum motivo, ela continuava a pingar.” Eu continuo a pingar mesmo tendo fechado completamente a torneira. Pingando, pingando, pingando... A válvula trinca: não há mais para onde girar. Estaria eu e Camille, no limiar crítico da existência? NÃO PÁRA DE PINGAR! Sim, podemos estar. É uma possibilidade. Talvez o que eu preciso para não cair no precipício seja ligar para a polícia? É que o que eu preciso é de vento no cabelo. É da alma voando e do coração selvagem sem alguma permissão.
Não quero mais fazer pedidos, cansei. Afinal, estou tão cansado, que só um precipício me salvaria. Ou de mais um pombo, não sei. As simplicidades, como o silêncio ou o amor, são complexas, um sorriso ou um olhar, aparentemente complexos, transmite apenas aquilo, que é realmente complexo: um silêncio ou um amor... Por isso me sinto cansado, exausto, usaram as palavras como escudo e ela então vai perdendo seu cerne voluptuoso. Sua cara de meretriz despindo o cliente. Igualmente, não quero mais também os olhares, tenho um precipício à minha frente, que me ausenta de mim, e me deixa completamente sem querer.
Um olhar que assoprasse meus cabelos, talvez. Uma palavra dita que então faria se mover o vento e minha alma tão libertamente sufocada. Os silêncios estão pingando e não sei se devo enxugá-los, quero apenas deixá-los no chão, inundando a alma...
E talvez, uma gratuidade, falta gratuidade nas soluções. Dou-te um beijo porque te beijo agora. Te amo porque te amo e não haveria te amar de outra forma. Deixa-me um pouco no silêncio porque estou me purificando, estou me purificando por estar somente...
É que me sinto inabitado.
Camille pensou primeiro em chamar o encanador ou o vizinho, talvez aquilo fosse obra de um vazamento; até em um padre Camille pensou, caso fosse obra de alguma assombração, entretanto, a válvula no final e a torneira pingando era tão inexplicavelmente real, que ela decidiu abrir a torneira toda e lavar toda a louça.